terça-feira, 13 de abril de 2010

Existe um dia de oração pelas vocações?


Um costume bastante difundido em praticamente todo o Brasil é a prática da oração pelas vocações, em algumas dioceses e comunidades a primeira quinta-feira do mês é marcada por celebrações ou adorações vocacionais. Muitas vezes, não se tem claro que vocação não se resume a ser padre ou freira, mas está ligado ao chamado que Deus dirige a cada um em particular desde o ventre materno para primeiramente existir como ser humano e a desenvolver, por meio de seus dons, um papel particular na realização do Projeto de Deus.
Mesmo não havendo uma clareza conceitual, é bonito e animador constatar que não há nenhuma dúvida quanto à missão que o Mestre nos deixou: “Rogai ao dono da messe que envie trabalhadores à sua messe”. A ordem deixada por Jesus de rezar pelas vocações é narrada pelo evangelista Mateus, quase ao final do capítulo 9. Nesse trecho é importante ressaltar que Jesus, mesmo percorrendo cidades e aldeias ensinando, curando e proclamando a Boa Nova do Reino de Deus tem sensibilidade suficiente para ver e comover-se diante da situação de um povo cansado, abatido que andava como ovelhas sem pastor. É neste contexto que brota o imperativo de Jesus aos discípulos de todos os tempos: rezar pelas vocações. Mas uma oração que nasce de quem tem o coração e os olhos mergulhados em Deus e, por isso mesmo, com a capacidade de um olhar mais profundo diante da realidade mas, um olhar de quem é profundamente comprometido com seu contexto histórico. Dissociar a oração pelas vocações desta capacidade de olhar e de comoção diante da realidade é esvaziar seu conteúdo.
O papa Paulo VI, fiel aos ensinamentos do Mestre e lançando um olhar profundo e ansioso sobre a realidade, sente a necessidade de que haja um Dia onde todos estejam irmanados num único clamor ao Senhor. As primeiras linhas de sua primeira mensagem para o Dia Mundial de Oração pelas Vocações, datada de 11 de abril de 1964, revelam tal preocupação: “Lançando o olhar ansioso pelas extensões imensas dos campos espirituais verdejantes, que em todo o mundo esperam mãos sacerdotais, brote da alma a aflita invocação ao Senhor, segundo o convite de Cristo. Sim, hoje como naquele tempo, ‘a messe é abundante, mas os operários, pouco numerosos’: poucos em comparação com as crescentes necessidades do cuidado pastoral; poucos perante as exigências do mundo moderno, aos seus clamores de inquietação, às suas necessidades de clareza e de luz, que requerem mestres e pais compreensivos, abertos, atualizados; poucos ainda, com respeito àqueles que, embora distantes, indiferentes ou contrários, contudo querem ver no sacerdote um modelo vivo e irrepreensível da doutrina que professa”. Se, talvez, você não soubesse a data desta mensagem e seu autor, poderia muito bem pensar que se tratasse de um texto recente... como são poucos os operários e operárias na vinha do Senhor!
Mas, vamos saber um pouco mais de como surgiu o Dia Mundial de Oração pelas Vocações?
Em 23 de janeiro de 1964 o papa Paulo VI, por meio de seu Secretário de Estado, Cardeal Amleto Cicognani, enviava uma carta à então “Sagrada Congregação dos Seminários e das Universidades de Estudos”, instituindo na Igreja o Dia Mundial de Oração pelas Vocações. O anúncio oficial só veio acontecer em 02 de fevereiro do mesmo ano, por meio de uma carta do citado organismo ao episcopado de todo o mundo. Foi assim que, em 11 de abril saiu oficialmente a primeira mensagem para este Dia: “Neste domingo, que na liturgia Romana toma do Evangelho o nome de Bom Pastor, se unam num único anseio de oração as fileiras generosas dos católicos de todo o mundo para invocar ao Senhor os operários necessários para a sua messe. E para que este Dia Mundial de Oração pelas Vocações Sacerdotais e Religiosas tenha aquele ecoar merecido, desejamos dirigir a nossa palavra de estímulo a todos os nossos filhos diletíssimos, a fim de que nenhum falte a um dever tão grave e de tanta generosidade”.
Como o próprio papa afirmou em sua primeira mensagem, este Dia é dedicado, de forma particular, as vocações presbiterais e a vida consagrada. Porém, não podemos esquecer que o surgimento deste Dia se deu durante os trabalhos do concílio Vaticano II que impulsionou um renovar na reflexão vocacional. Portanto, a vocação como um todo e as diversas formas de vocações específicas não são deixadas de lado, mesmo o Dia tendo um corte particular. Basta um olhar sobre as várias mensagens papais para percebermos a abrangência vocacional dos temas abordados; o conjunto destas mensagens são uma boa fonte de formação e apelo vocacional.
Gostaria de citar dois apelos em particular: o primeiro de 1967, “jovens sabeis que Cristo precisa de vocês? sabeis que o seu chamado é para os fortes, é para os rebeldes à mediocridade e à covardia da vida cômoda e insignificante; é para aqueles que ainda conservam o sentido do Evangelho e sentem o dever de regenerar a vida eclesial pagando pessoalmente e carregando a cruz?”; o segundo é de 1971, “A vós, portanto, jovens filhos crentes, queremos repetir as palavras da parábola: ‘por que ficastes aqui aí o dia inteiro sem trabalho?’ (Mt 20,6). Hoje não há necessidade de palavras, mas de obras. Não há necessidade de veleidades, mas de generosidade concreta, que leve ao dom de si próprio. Não há necessidade de contestações estéreis, mas de sacrifício pessoal que, com empenho direto, transforme o mundo em decadência. Só os jovens podem compreender esta necessidade: e, aos melhores, pode-se abrir o campo ilimitado do apostolado sacerdotal, missionário, caritativo e assistencial de que necessitam os irmãos. Ouvi a voz de Cristo que vos chama para serdes seus operários; dai um sentido à vida, fazendo vossas as solicitudes da Igreja para a elevação e o progresso dos povos”.
Neste ano, no próximo dia 25 de abril celebraremos o 47º ano, onde o quarto domingo da Páscoa (domingo do Bom Pastor) é mundialmente celebrado como Dia Mundial de Oração pelas Vocações.
Ir. Clotilde Prates de Azevedo, ap

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