quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Que lugar tem Deus na minha vida?


O caminho quaresmal de preparação para a Páscoa cristã começa com o gesto de penitência da imposição das cinzas na quarta-feira de Cinzas, e termina com o início do Triduo Pascal na noite da Quinta-feira Santa, com a celebração da Missa da Ceia do Senhor.
            Desde o Antigo Testamento,  as cinzas são um símbolo da morte, da dor, do arrependimento, da penitência e do desejo de conversão para demonstrar a disposição pessoal de se reconciliar com Deus. As cinzas significam a transitoriedade da vida humana sobre a terra e, ainda, o sentido passageiro de toda  realidade material. Como escreve o livro do Génesis no capítulo 3 versículo 19 “Porque tu és pó e ao pó as de voltar”. A celebração das cinzas abre para nós o período onde somos chamados de forma mais intensa a conversão de nosso coração a Deus.
            O papa Bento XVI na homilia da quarta-feira de cinzas de 2007 afirmava que a “liturgia da Quarta-Feira de Cinzas indica assim na conversão do coração a Deus a dimensão fundamental do tempo quaresmal. Esta é a chamada muito sugestiva que nos vem do tradicional rito da imposição das cinzas. Rito que assume um dúplice significado: o primeiro relativo à mudança interior, à conversão e à penitência, enquanto o segundo recorda a precariedade da condição humana, como é fácil compreender das duas fórmulas diversas que acompanham o gesto".
Nos Evangelhos, Jesus indica quais são os instrumentos úteis para realizar a autêntica renovação interior e comunitária: as obras de caridade (a esmola), a oração e a penitência (o jejum). São as três práticas fundamentais queridas também à tradição hebraica, porque contribuem para purificar o ser humano aos olhos de Deus.
Bento XVI, em 2007, ao falar sobre o jejum como prática quaresmal, afirmava que não podemos ter como base motivações de ordem física ou estética. Mas, motivações que brotam da "exigência que o homem tem de uma purificação interior; que o eduque para aquelas renúncias saudáveis que libertam o crente da escravidão do próprio eu; que o torne mais atento e disponível à escuta de Deus e ao serviço dos irmãos. Por esta razão o jejum e as outras práticas quaresmais são consideradas pela tradição cristã 'armas' espirituais para combater o mal, as paixões negativas e os vícios. A este propósito, apraz-me ouvir de novo convosco um breve comentário de São João Crisóstomo. 'Como no findar do Inverno escreve ele volta a estação do Verão e o navegante arrasta para o mar a nave, o soldado limpa as armas e treina o cavalo para a luta, o agricultor lima a foice, o viandante revigorado prepara-se para a longa viagem e o atleta depõe as vestes e prepara-se para as competições; assim também nós, no início deste jejum, quase no regresso de uma Primavera espiritual forjamos as armas como os soldados, limamos a foice como os agricultores, e como timoneiros reorganizamos a nave do nosso espírito para enfrentar as ondas das paixões. Como viandantes retomamos a viagem rumo ao céu e como atletas preparamo-nos para a luta com o despojamento de tudo' (Homilias ao povo antioqueno, 3)”.
Na catequese apresentada nessa Quarta de Cinzas o papa tomou como ponto de partida as tentações sofridas por Jesus no deserto cf. Lc 4,1-13. 
Das tentações que Jesus sofreu nasce, afirma Bento XVI, "um convite para cada um de nós a responder a uma pergunta fundamental: o que conta verdadeiramente na nossa vida? [...] Qual é o núcleo das três tentações que sofre Jesus? É a proposta de manipular Deus, de usá-Lo para os próprios interesses, para a própria glória e o próprio sucesso. E também, em sua essência, de colocar a si mesmo no lugar de Deus, removendo-O da própria existência e fazendo-O parecer supérfluo. Cada um deveria perguntar-se então: que lugar tem Deus na minha vida? É Ele o Senhor ou sou eu? Superar a tentação de submeter Deus a si e aos próprios interesses ou de colocá-Lo em um canto e converter-se à justa ordem de prioridade, dar a Deus o primeiro lugar, é um caminho que cada cristão deve percorrer sempre de novo. 'Converter-se', um convite que escutamos muitas vezes na Quaresma, significa seguir Jesus de modo que o seu Evangelho seja guia concreta da vida; significa deixar que Deus nos transforme, parar de pensar que somos nós os únicos construtores da nossa existência; significa reconhecer que somos criaturas, que dependemos de Deus, do seu amor, e somente “perdendo” a nossa vida Nele podemos ganhá-la. Isto exige trabalhar as nossas escolhas à luz da Palavra de Deus. Hoje não se pode mais ser cristãos como simples consequência do fato de viver em uma sociedade que tem raízes cristãs: também quem nasce de uma família cristã e é educado religiosamente deve, a cada dia, renovar a escolha de ser cristão, dar a Deus o primeiro lugar, diante das tentações que uma cultura secularizada lhe propõe continuamente, diante ao juízo crítico de muitos contemporâneos". 


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