sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Vocação: estar no meio do povo, às margens do centro

Vocação é escolha. E é também escolha, dentre outras, de caminhos. Ao falarmos de caminhos, percebemos uma coisa fundamental: não se é vocacionado se não se caminha. Uma pessoa parada, que não anda, não escolhe e, portanto, não chega a lugar algum. É alguém que não se arriscou e, dessa forma, jamais terá aceitado ou abraçado sua vocação.
O vocacionado, por caminhar, acaba se machucando. Inevitável! Não dá pra não ser assim. Porém, vale a pena. Tem que valer. Sonhar é arte de ferir-se em nome da plenitude.
Vocação é, também, muito mais ouvir do que falar. Quem fala demais, nunca vai descobrir sua vocação. Não descobre, porque não percebe. Quem nos grita a vocação, além do sopro interior, é a boca do irmão. Saber ouvir o clamor do outro nos indica o caminho a seguir. É como Maria chamando a Jesus em Caná. É também como a outra Maria e a irmã Marta, que chamam Jesus para salvar Lázaro, em Betânia. Quem ouve sabe que, por vezes, é preciso mudar os rumos. O chamado sobrepõe-se à vontade própria. Um vocacionado deixa o "eu" em segundo plano.
Aí vai outra coisa que penso sobre vocação: não é possível ser vocacionado sem esvaziar-se de si. Não quer dizer que deva faltar amor próprio. Jamais! Porém, o vocacionado não se vangloria e sabe que é preciso se diminuir em favor de um algo maior. E isso vale para qualquer vocação. Ou seja, se uma pessoa não saiu de seu mundinho, nunca terá descoberto sua vocação. É preciso entender que só se enxerga a si mesmo quando sabemos ler o espelho no olhar do outro.
Vocação a amar é universal. E a este chamado todo mundo tem que responder. E não é "amorzinho". É amor pleno. Amor que rompe, faz tremer e subjuga a ordem. Só pelo amor é que se descobre a vocação verdadeira. Aquela que nos faz ver que, atendendo aos chamados, seremos felizes.
Vocação é ter projeto, mas é também saber sentir os rumos dos ventos. É entender que, às vezes, a missão é uma quarentena de deserto e não uma vida inteira de leite e mel na Terra Prometida. Vocação é enfrentar estruturas que matam, mesmo sabendo que o resultado pode ser a cruz. Vocação é ter paciência, mesmo quando tudo parece ter sido destruído. É também aprender a se virar numa terra estrangeira, mesmo que a saudade aperte. Sobretudo, é aceitar chamados sem desculpas de "que não darei conta". Dessa forma, seremos como Moisés, Jesus, Jó, José do Egito e Maria. Símbolos de vocação, que nos ensinam, nos inspiram e nos provocam.
Afinal, não há vocação sem profundas provocações. Provoque-se.
VINÍCIUS BORGES GOMES - Diocese de Oliveira


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